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Capoeira angola

Também chamada de capoeira mãe, o jogo de angola é a origem da capoeira.

 

Não há data definida e nem uma pessoa a quem possamos atribuir com certeza sua criação. Apesar disso, sempre que falamos em capoeira angola temos o nome de Mestre Pastinha ( Vicente Ferreira Pastinha, 1889 - 1981) associado a ela.

 

Pastinha foi um grande defensor da capoeira angola, divulgando-a e introduzindo-a na sociedade, fazendo com que a capoeira deixasse de ser vista como uma luta marginalizada que era praticada somente por vândalos e arruaceiros.

 

Segundo Pastinha, em seu livro Mestre Pastinha Capoeira Angola, a capoeira angola é uma modalidade de luta que se distingue de qualquer outra modalidade esportiva, pois possui características que a identificam de uma forma insdiscutível.

É o estilo de capoeira que mais se aproxima daquela que seria a "capoeira dos escravos", por possuir ritmo musical mais lento, movimentos rasteiros (porém não menos eficientes), e muita malícia. Outra característica é o pequeno número de golpes (se compararmos com outras modalidades de luta). Onde os principais são: cabeçada, rasteira, rabo de arraia, chapa de frente, chapa de costas, meia lua e cutilada de mão. Cada um desses golpes apresenta variações que dependerão da posição do cacapoeirista e da região a ser atingida.

 

É um jogo de considerável complexidade - apesar da aparência simples - onde há objetividade em todos os gestos e uma filosofia intrínseca determinando o sentido da movimentação. Na verdade, como a disputa transcorre de forma sutil, muitos não se apercebem da sua existência, ou não conseguem entendê-la.

Não há o objetivo de superar o adversário na base do vai ou racha.

Os gestos são naturalmente estudados, permitindo a observação detida de um camarada pelo outro. Se um movimento é executado de forma irrefletida, seu autor não perde por esperar. De pronto está criada a oportunidade de uma sucessão de ataques e contra-ataques. Cada gesto é executado com muita atenção em todos os detalhes. A hora exata de empregá-lo é aquela que diminua as possibilidades de deixar uma brecha para a defesa. É imprescindível estar atento às reações do oponente, procurar iludi-lo, chamá-lo para a armadilha. Tudo de forma calculada, treinada, ensaiada durante horas de exercício.
Este é o princípio fundamental do jogo Angola: nada de explosões de violência. Não se trata de uma briga, mas de um entretenimento. Deve prevalecer a aceitação das regras. Malícia, manha, astúcia, esperteza, são sinônimos do jogo. Não se pretende a demonstração ou exibição de nada que não seja a competência na disputa.
A movimentação do jogo acontece basicamente no chão. Isto não quer dizer que não podem ser executados movimentos altos; significa que o capoeira busca explorar as facilidades de locomoção pelo solo, fazendo uso de todos os recursos colocados ao seu dispor graças aos treinos, destinados a habilitar o praticante a gestos aparentemente inofensivos.

 

“Capoeira de Angola só pode ser ensinada sem forçar a naturalidade
da pessoa, o negócio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada qual.
Ninguém luta do meu jeito mas no jeito deles há toda a sabedoria que
aprendi. Cada um é cada um (...). Não se pode esquecer do berimbau.
Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá vibração e ginga ao
corpo da gente. O conjunto da percussão com o berimbau não é arranjo
moderno não, é coisa dos princípios. Bom capoeirista, além de jogar, deve
saber tocar berimbau e cantar. E jogar precisa ser jogado sem sujar a roupa,
sem tocar no chão com o corpo. Quando eu jogo, até pensam que o velho
está bêbado, porque fico todo mole e desengonçado, parecendo que vou
cair. Mas ninguém ainda me botou no chão, nem vai botar (...)”
 

 

Nos discursos dos mestres de angola, observamos a preocupação com a preservação da tradição e dos fundamentos da capoeira, dentre os quais destacamos o respeito, a justiça, a humildade, a lealdade e a paciência. 

 

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